PARÓQUIA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA EM BELÉM - PA
Homilia do culto de 27.09.2009
Responsável: Hélio Mairata (convidado especial)
TEXTOS:
Primeira leitura: Nm 11, 25-29
Segunda leitura: Tiago 5, 1-6
Evangelho: Marcos 9, 38-50
Os textos lidos hoje inevitavelmente nos conduzem à uma visão macroecumênica.
Na primeira leitura, do livro dos Números, observamos como Moisés, o grande fiador da Velha Aliança, mostra sua aceitação à diversidade dos seguidores de Deus e é contra o exclusivismo de um grupo e a discriminação dos demais.
No Evangelho de Marcos, Jesus, o fiador da Nova Aliança, igualmente repreende seus próprios seguidores imediatos e próximos que são contrários à existência de outros grupos de seguidores.
Jesus, aliás, sempre se portou assim. Basta lembrarmos de sua aceitação à pagã e idólatra cananéia; ao igualmente idólatra centurião romano; à mulher samaritana; e ao assim chamado bom samaritano da conhecida parábola. Nunca pediu que mudassem de religião.
É preciso lembrar também, que há religiões mais antigas do que o cristianismo.
Mas, porque a Teologia deve ser necessariamente pluralista?
Porque o Deus que criou o universo é transcendente, ou seja, não é totalmente compreensível e não pode ser apreendido pela natureza humana. Por isso, cada cultura, cada pessoa, o enxerga de uma maneira que lhe é peculiar.
Precisamos arrancar das nossas cabeças a idéia arraigada de antropomorfizar a Divindade. Definitivamente: Deus não é humano. Assim, não padece de nossos vícios, entre eles, ter um nome que o distinga dos demais (afinal, só há um único Deus); ou um ciúme por sons diferentes conforme cada cultura der para tal suposto nome.
Sua vontade é simples e está escrita em nossos corações: o amor ao próximo; a boa vontade; a compreensão; a não-exploração do outro; a humildade; o serviço. Não são esses exatamente os ensinamentos de Jesus?
E mais: formas de culto; formas de governo eclesiástico; crenças particulares; liturgias; nada disso é importante para Deus. Não será salvo quem disser:”Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos em teu nome que expulsamos demônios e em teu nome que fizemos muitos milagres? Ele responderá: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim vós que praticastes a maldade”.
É verdade que cada pessoa se identifica com um grupo religioso, no qual se sente como dentro de uma casa. As paredes são as suas crenças próprias.
Mas a casa tem janelas. Por elas podem-se ver as outras casas, diferentes - e amar os que nelas moram.
Só que na hora da chamada do Juízo, Jesus não perguntará pelas casas, mas pelas pessoas: quem aí é católico, evangélico, ortodoxo, espírita, budista, maometano, hinduísta, umbandista... Será salvo, segundo ele, quem receber o pequenino; quem der comida a quem tem fome; água a quem tem sede; agasalhar o nu; visitar o doente e o preso. E nesse dia, para surpresa de todos, em especial de muitos religiosos, modernos fariseus e intolerantes em geral, Ele abrirá seus braços para budistas, como o Dalai Lama; para hindus, como o Mahatma Gandhi; para evangélicos, como Martim Luter King; para católicos, como Tereza de Calcutá; para Chico Xavier, espírita; para ateus, como Che Guevara, Darcy Ribeiro. Mas também para fiéis islamitas; para os indígenas com suas crenças milenares; para os pobrezinhos que só sabem que sua única esperança é aquele que está lá em cima.
Em contrapartida, fechará as portas para os ricos opressores ou qu, como escreve Tiago, irmão de Jesus, na segunda leitura de hoje, só se preocupam em acumular o ouro e a prata e negam um salário que dê qualidade de vida aos trabalhadores.
Claro que também para os que adotam as crenças das culturas africanas. Mas para mostrar isso e para encerrar vou repetir uma parábola de Frei carmelita Carlos Mesters, um dos maiores biblistas brasileiros e conhecido escritor, por ele contada em um desses Encontros Interclesiais de CEBs:
Certa vez, Jesus reuniu os discípulos e as discípulas e disse: “Quando vocês forem anunciar o Reino, não devem levar dinheiro nem comida, mas devem confiar no povo. Chegando num lugar, se vocês forem acolhidos e o povo partilhar comida e casa com vocês, e se vocês participarem da vida deles trabalhando e tratando dos doentes e do pessoal marginalizado, sem voz nem vez, então podem dizer ao povo com toda a certeza: “Gente! Olhe aqui! O Reino chegou! Está chegando!”. E eles foram.
Jesus também foi. Andou, andou. Já era quase noite. Estava começando a escurecer, quando chegou num terreiro. O pessoal que entrava, saudava e dizia: “Boa Noite, Jesus! Sinta-se em casa. Participe com a gente!”. Jesus entrou. Viu o pessoal reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo o mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam entre si. Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fossem amigo e irmão de longa data. Gostou de ser acolhido assim.
Via também como a mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados. Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse: “A paz esteja com você, Jesus!”. Jesus respondeu: “Com a senhora também!”. E acrescentou: “Posso fazer uma pergunta?”. E ela disse: “Pois não Jesus!”. E ele disse: “Como é que a senhora me conhece? Como é que eles sabem o meu nome?”. E ela disse: “Mas Jesus, aqui todo o mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa, aqui no meio de nós!”.
Jesus olhou para ela e disse: “Muito obrigado!”. E continuou: “Mãe, estou gostando, pois o Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!”. Ela olhou para ele e disse: “Muito obrigada, Jesus! Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!”. E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho: “Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!”. Dançou um tempão. No fim comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele. E dentro dele, o coração repetia, sem cessar: “Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!”
Paróquia Evangélica de Confissão Luterana
Culto de 27 de setembro de 2009, às 9h
Trav. Visconde de Inhaúma, 1557, esquina com Lomas Valentinas.
Fone: (91)32763196
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