sexta-feira, 19 de março de 2010

Reverendo anglicano Marcos Barros defende tema da CF Ecumênica


O INCÔMODO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2010


Rev. Marcos Barros
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Belém/PA


A Campanha da Fraternidade existe desde 1962. Apesar de sempre ter um tema relacionado a uma preocupação social, poucas vezes enfrentou oposições e divulgações contrárias. Mesmo durante a ditadura militar, a CF contou com apoio quase unânime da opinião pública e da sociedade.
Segundo a Agência Latino-Americana de Notícias, o jornal gaúcho Zero Hora, edição do domingo, 28 de fevereiro, publicou artigo do escritor Percival Puggina contra o tema e o conteúdo da campanha. Ali, o autor é apresentado como “católico convicto, leigo atuante na arquidiocese de Porto Alegre”. Conforme a ALN, “Puggina encaminhou mensagem à Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano, queixando-se da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)”. O seu texto diz: “Muito conviria a essa Congregação conhecer o desconforto e a rejeição suscitada pela atual Campanha da Fraternidade, que, de modo solerte, confunde idolatria com economia de mercado e recua em relação à Doutrina Social da Igreja quando propõe vagos modelos ‘alternativos’ de organização da atividade econômica ‘que privilegiem a solidariedade e a partilha’”.
A este professor, também se somam teólogos que, mal informados ou não, julgam negativamente a CF2010 e sobre ela chegam a dizer absurdos. O que está por trás dessa rejeição é que, mais do que outros, o tema da CF 2010 causa a essas pessoas um forte incômodo. Como nenhuma outra, ela trabalha temas de suporte das relações de justiça no empreendimento econômico. E seu lema é a frase do próprio Jesus que não deixa alternativa: “vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro (Mt 6:24)”. Lembro-me das palavras de Dom Helder Câmara, quando ainda arcebispo católico de Olinda e Recife: “quando eu falo que os pobres precisam de pão, eles me chamam de bondoso. Quando pergunto por que são pobres, me chamam de comunista”.
Aí está a diferença: a CF2010 não apenas chama para que se reconheça a necessidade de uma economia mais humana, como forma de ser bonzinhos. Mas, denuncia as injustiças, desigualdades, a “mercadolatria” e todas as regras de lucro que diminuem os seres humanos e os transforma em exploradores ou explorados. Por isso, a CF 2010 é acusada de reducionista e até de comunista. Por isso, o tal escritor faz denúncia à Congregação da Doutrina da Fé do Vaticano. Outrora, eles também pediriam socorro à CIA.
Para concluir: a economia mais humana não constitui apenas, como diz o Sr. Puggina e companhia, vagos modelos ‘alternativos’. É uma realidade cada dia mais vivida. Não tem nada de “vaga”. No mundo todo, torna-se real em modelos como a “economia de comunhão”, idealizada por Chiara Lubrich e implantada no Movimento dos Focolares, assim como pelas diversas atividades e iniciativas de “economia solidária”, implantadas no Brasil e na America Latina pelos movimentos sociais. Há bastante tempo, estas e outras experiências estão comprovadas e dando certo.
A CF 2010 faz a ação profética de convidar todos os cristãos a uma ação solidária, já que é ecumênica. Chama-nos a viver uma quaresma verdadeira, de conversão (por fazermos parte de sistemas injustos) e de mudança sincera de vida em prol da partilha.  Tal atitude é testemunho da ressurreição de Jesus Cristo que se revela ao mundo na vida das Igrejas e de todas as pessoas que têm fome e sede de justiça. Que a verdade nos liberte a todos.

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