Nesta madrugada, mais um jovem foi assassinado, vítima da violência e extermínio que vem ceifando a vida de muito/as destes/as. Ainda está presente em minha memória, os últimos suspiros de agonia e dor... Nas pessoas ao redor do corpo, o lamento: "que pena... tão novo!" De um dos policiais a fala: "se fosse um pai de família..." (por conta do não demorar do IML ao chegar no local). De outro, a voz alta, quase a gritar com um outro jovem por ter tecido um comentário "incerto" sobre o fato. Nos arredores, o comentário de que o mesmo já havia sido agredido a alguns metros dali, sendo roubado sua bicicleta... e que em busca de "justiça com as próprias mãos" teria ido se armar, para vingar-se. E ao subir a baixada, teria sido alvejado por tiros (até onde escutei foram 4 disparos). Na perícia, percebeu-se dois tiros: um que atingiu seu olho esquerdo e outro as costas.
Para o IML e a polícia, pode ser mais um dos tantos jovens assassinados, para a Igreja, pode até ser mais um nome incluso na lista da missa de 7º dia... Para mim, é mais um motivo de indignação e um fator para reafirmar minha opção pelos jovens: CHEGA DE VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS!
Antes que chegue o tempo em que se invada templos e casas, antes que se chegue o tempo em que ser jovem é ser "sortudo", eu quero continuar a lutar, para que a Juventude conquiste dignidade. O Evangelho para mim é claro: Cristo não foi tímido frente aos problemas que enfrentou em sua época. E ia a raiz de tais problemas...
Antes mesmo que este jovem tivesse levado tais disparos que retirou sua vida, a ausência de uma série de direitos já fazia sua vida convergir para a situação que encontrou nesta madrugada. Não quero com isso absolutizar, mas instigar a uma reflexão comum em muitas vidas que aqui no Benguí se encontram: há como ter vida em abundância num bairro que sofre com a ausência de uma série de serviços básicos para a população? A comunidade está tentando, sobrevivendo.
Dos parlamentares eleitos em nosso bairro, ainda não vi uma prática que vai além do assistencialismo. Está na hora de abrir os olhos e ver os sinais dos tempos. Renovar é tornar novo todas as coisas! E todas não implica em "umbiguismo", mas ir mais além dos muros de nossas casas, escolas, igrejas, grupos políticos... Renovar é cuidar do planeta e das pessoas que aqui vivem.
Fico a imaginar a dor de sua mãe de todos/as que o queriam bem... ponha-se no lugar destes/as. Poderíamos ter chegado antes... mas não deu. Porém, ainda há tempo pra se fazer muita coisa. "Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!" (Mt 13,9).
Eduardo Soares
Secretário Arquidiocesano da Pastoral da Juventude.
Arquidiocese de Belém/Pa.
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